Exposições
A Ponta do Lápis e o Vespeiro | Reginaldo Pereira | de 02 de dezembro a 17 de janeiro de 2014
2 + 2 = 5,7
Uma lata existe para conter algo / Mas quando o poeta diz: "Lata" / Pode estar querendo dizer o incontível
Gilberto Gil
Sempre que há o intento de definir a arte corresse o risco da redução. Por isso alguns acreditam que a impossibilidade de uma definição axiomática à respeito é uma das essências da arte, se a encapsularmos, não mais se trata de arte. Mas de modo geral, nas rodas de entendidos, do bar a academia, há o consenso a respeito da sua multiplicidade, da multidão de devires que fugam segundo a perspectiva desde a qual se a sintoniza. Pois bem, nesta nuvem de volume e estado variável e cujo centro de gravidade se modifica de acordo aos tempos históricos, a hum componente que persiste a nos instigar, e que se faz relevante particularmente ao tentar adentrar o território no qual se expande a obra de Reginaldo Pereira: a lógica. Me refiro aqui a lógica entendida na sua mais simples expressão, a articulação e combinação de sucessivas células, sejam pensamentos, ações, instruções, etc.
Em seu percurso, Reginaldo Pereira tem desenvolvido como marca registrada a construção de uma lógica, a saber, um modo de proceder, que coloca em diálogo dois atributos que o senso comum tem como opostos: o racional e o sensorial.
Numa primeira aproximação a sua obra se faz evidente a sua afinidade com a arte conceptual, onde convenhamos, o componente racional se faz presente de maneira mais acentuada. Esta ideia vem rapidamente a tona porque no seu trabalho as coisas não são o que são (esta sentença ficará mais clara no decorrer do texto).
Mas ao mesmo tempo que desconfiamos na existência de camadas ocultas no diálogo com a sua obra, também percebemos o potente e comedido rigor formal e o polido acabamento que aqueles que acompanhamos a sua trajetória sabemos que são de fatura pessoal. Pereira tem formação em arquitetura, e é sem dúvida no tempo de estudante que cultivou essa particular habilidade na manufatura da obra de arte fusionando discurso y forma com precisão, acionar típico dos arquitetos formados em escolas herdeiras da Bauhaus e a sua grade curricular transdisciplinar, onde a mão na massa é tão importante quanto a reflexão empírica e teórica.
Este seu proceder lógico, inclui a habilidade de intervir em objetos comuns a partir de uma lógica do avesso. Me explico, Pereira costuma coletar objetos nos mais diversos lugares, da rua à casa dos amigos, ou por vezes comprar-os em lojas ou papelarias populares. Ora por um surto de inspiração no momento do contato com o objeto, ora por convivência com o mesmo, mas sempre em processos catárticos, ele descobre, inventa, combina, manipula e recria a forma e a estrutura do mesmo, mas não no sentido da forma pela forma, ou na tentativa de resgatar memórias. A suas intervenções resultam em artefatos que nos parecem familiares ou ao menos possíveis, onde o objeto original incorpora as mais variadas e esdrúxulas capacidades e funções. As estranhas combinações e utilidades que ele impõe a estes objetos cotidianos acabam evocando atmosferas e/ou narrativas, densas ou frugais, mas sempre diretas e sem retórica ou excessos.
É justamente na promoção dessas metamorfoses, nesse intervalo entre o que existe e o que pode existir, que o trabalho de Pereira tange o político. Virando do avesso os objetos do cotidiano o artista comenta o espaço comum da polis defendendo a ideia de que por trás de tudo o que há, existe a potência do novo, do desconhecido, do útil e do inútil, do cômico e do trágico, do imprescindível e do essencial.
Fernando Velázquez, novembro 2013
A ponta do lápis e o vespeiro | Reginaldo Pereira | de 02 de dezembro a 17 de janeiro de 2014
Vista geral da exposição A ponta do lápis e o vespeiro / primeira sala
Detalhe da exposição A ponta do lápis e o vespeiro / primeira sala
Detalhe da exposição A ponta do lápis e o vespeiro / primeira sala
Vista geral da exposição A ponta do lápis e o vespeiro / primeira sala
Detalhe da exposição A ponta do lápis e o vespeiro / primeira sala
Vista geral da exposição A ponta do lápis e o vespeiro / segunda sala