A primeira vez que falei com Paulo Reis foi a propósito de um convite que então ele me fez. Surpreendi-me pelo entusiasmo em relação ao projeto para o qual me convidava e pelo modo amável e generoso como ele me tratou, fazendo-me pensar que me tinha em alta conta, fazendo-me pensar que ele havia me escolhido por julgar-me dotado de uma vivacidade de espirito que eu não sabia ter. Aliás, sabia que não tinha. Os anos se passaram e quando eu o reencontrei em Portugal, percebi que esse era seu modo de ser, que as pessoas a sua volta encantavam-se com seu entusiasmo, amabilidade e generosidade, e terminavam por se contagiar por todas essas qualidades que Paulo emprestava a elas. Como, então, não acompanhá-lo? Como não se envolver com suas ideias ousadas, seu gosto pelos jovens artistas que percorriam caminhos inadvertidos, pelos artistas maduros cuja potência do trabalho ele sempre sublinhava, por seu modo afável e inteligente de ser, sempre demandando inteligência por parte de seus interlocutores? Lembro-me de Paulo como alguém que contribuía para a melhora de seu círculo. Nada mais natural que ele tenha criado um centro de arte em Lisboa de nome Carpe Diem. Neste nome seu jeito de levar a vida.

 

 

AGNALDO FARIAS

Crítico de Arte, curador e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP.