RECORDAR O PAULO COM MUITA MÚSICA
O Paulo era o Paulo.
Um permanente viajante, um homem quase da Renascença, com uma pureza e ingenuidade como já ninguém tem. Odiava esquemas, estratégicas para tomar o poder e acreditava na vida e nos artistas.
Foi apanhado numa curva, desprotegido, deixando-se cair num daqueles buracos fundos de onde nunca se regressa.
Os deuses fazem destas coisas, querem ter ao seu lado só os melhores e a maneira mais à mão de os convocar é passarem rasteiras.
Sabemos, porque sentimos que o Paulo nos faz falta, nós os que amamos Portugal e o Brasil, e que continuamos a acreditar que o futuro tem de passar pela cultura.
Recordá-lo dá-me força e a melhor maneira de o fazer é cantar:
“Oh Antonico vou lhe pedir um favor / Que só depende da sua boa vontade / É necessário uma viração pra o Nestor / Que está vivendo em grande dificuldade ... (1)
“Sim / Eu estou tão cansado / Mas não pra dizer / Que eu estou indo embora... (2)
“Cariocas são bonitos/cariocas são bacanas/cariocas são dourados/cariocas são modernos... (3)
Quando canto ouço o Paulo na minha cozinha a construir um pitéu apesar do frigorifico estar vazio.
Mas nós sabemos que “Amigo é coisa para se guardar / debaixo de sete chaves / dentro do coração” (4) e ele está guardado no fundo das nossa recordações.
O Paulo era assim, quase um mágico. O Paulo era o Paulo.
Zé Mário Brandão,
Lisboa Abril de 2015
(1) “Antonico” – Ismael Silva
(2) “Vapor Barato” – Jards Macalé/Waly Salomão
(3) “Cariocas” – Adriana Calcanhoto
(4) “Canção da América” – Milton Nascimento
ZÉ MÁRIO BRANDÃO é dono da Galeria Graça Brandão, Portugal.